quarta-feira, 3 de agosto de 2022

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Política de solidariedade - Política de identidade


Política de solidariedade - Política de identidade

Por Adu Verbis

É importa proteger a identidade cultural e a identidade de gênero, porém, a política de identidade de grupos não pode incentivar governo ideológico que sustente a ideologia de um grupo. Governo que busca normatizar a ideologia de um grupo.

Não podemos incentivar governo não solidário, nem governo que aparelha o Estado para defender a ideologia de grupo em prejuízo da constituição e do ideário democrático. Já que a constituição tem como norma a democracia.

A política de identidade não pode anular a solidariedade. Por isso, é importante incentivar a política de solidariedade, por que um governo solidário é mais importante do que um governo ideológico que viola a constituição.

A política de solidariedade tem que assegurar o funcionamento da democracia em beneficio de todos e educar a nação para entender o quão é importante os direitos e assim cuidar e preservar a pluralidade de identidades.  

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

LIVROS À VENDA

                                             www.amazon.com.br/dp/B07JD64JK3
 

A Transposição Dos Sentidos – A Hora Desbota O Tempo



A transposição dos sentidos – A Hora desbota o tempo



Por Adu Verbis



O objetivo deste texto não é fazer ciência, mas explorar os significados da palavra Hora por meio da imaginação e buscar correspondência fonética e grafema da palavra Hora. Fonética é a unidade sonora para formar e distinguir palavras. Já grafema é a representação gráfica do fonema. O objetivo do texto é explorar a poesia contida na palavra Hora e fazer poesia com os significados contidos na palavra Hora.


Vamos fazer uso da correspondência fonética e grafema e buscar o elo simbólico entre as palavras: Horus, Hora, Horae, Haora, Houre, Houria, Heure, Houra, Hourah, Houran, Horo, Hore, Hura, Hori, Höhe, Hour, Ordua, Orè, Oere, Óra, Órek, Uair, Uur, Ure, Orët, Ora, Orah, Dahoura, da Hora. Podemos definir este texto como uma dissertação absurda, isso, pela grande margem de desatino que há no texto, ou mesmo surrealista, pela prevalência absoluta do fantasioso.


Portando, temos como nave para a nossa viagem absurda e surrealista a palavra Hora e os significados que sustentam a palavra Hora. Nessa viagem não vamos evidenciar verdades linguísticas, e sim, alicerçar uma base teórica, absurda e fantasiosa, que possa referenciar, hipoteticamente, qual é a real origem da palavra Hora.


A escolha da palavra Hora se deu por que a palavra Hora tem uma força mitopoética – criação de um mito e sua eventual universalidade, e seu lastro primitivo de racionalidade. A palavra Hora guarda em si significados mitológicos que se misturam com a experiência empírica da humanidade. A palavra Hora é uma palavra que está presente em muitas línguas e não obstante com significados distintos.


A palavra Hora carrega em si toda uma carga simbólica, seja por meio da mitologia, ou através da religião com o sentindo de horas canônicas – horas regulares em que diariamente os padres e as freiras rezam. Enquanto que na ciência, a palavra Hora tem o sentido de unidade de medida de tempo. Além da carga mitológica, religiosa e cientifica, a palavra Hora tem referência toponímica e epônimo, que gerou alcunha – ár. al-kunya - sobrenome, cognome.


Vamos então, mediante a imaginação, explorar os distintos significados da palavra Hora, como também, explorar a denominação da palavra Hora enquanto sobrenome e a geração de aquisições de significados do sobrenome Hora na região ibérica, em especial em Portugal, e como o apelido, sobrenome, Hora, se deu em Portugal.


A Península Ibérica 


Como todos sabem, a Península Ibérica sofreu diversas interferência de povos distintos, e consequentemente, essa marca ficou na sua formação antropológica. Os romanos ao entrar na Península Ibérica, pela costa (Ora) cantábrica, deu-se assim o inicio do domínio do Império Romano na Península Ibérica.


E junto com a idiossincrasia dos romanos, chega também o latim, língua falada pelos romanos e que se estabelece como a língua do dominador. Portando, pelo domínio do latim, podemos supor, que a origem da palavra Ora, ou Hora, seja uma atribuição direta dos romanos na Península Ibérica.


Contudo, ao simplificar a origem das coisas corre-se o risco de ficar mais distante da origem das coisas. Pois, o cerne de uma coisa nem sempre se reduz a uma analogia. Cerne, pode ser a parte interna de um tronco de uma arvore, como também, pode ser qualquer coisa que vá além da compreensão, e inevitavelmente teremos que nos apoiar na intuição ou na imaginação para fazer uma síntese. Síntese, que pode conter coerência como também pode ser pura incoerência.


Portando, no caso da Península Ibérica, não cabe e não é permitido simplificações, isso, pela carga de complexidade pela qual a Península Ibérica fora formada. Não podemos esquecer, que antes dos romanos chegar na região, já havia povos que habitavam a região, e estes povos tinham uma língua com uma riqueza de significações tão grande quanto o latim.


Muitas coisas, no processo de contribuição, em termos de linguagem, entre os povos na Península ibérica, se perderam com o passar dos séculos. Assim, como muitas coisas se perderam no processo de formação da Península Ibérica, e outras tantas se fundiram e fecundaram novas significações, ou, ressignificações.


Quando falamos que o latim deu origem a línguas na região Ibérica: aragonês, asturo-leonês, catalão, espanhol, galego e português, talvez não atentamos para a hipótese que essas novas línguas surgem por haver bases morfológicas entre as línguas dos povos étnicos na região da Península Ibérica com o latim. Portanto, as línguas românicas não surgem por acaso, ou simplesmente o surgimento dá-se pelo que chamamos de vulgarização do latim, e que talvez, estas línguas surgem, justamente, por haver bases morfológicos entres elas e o latim.


Porém, suponho, que o surgimento de uma nova língua, vai além das bases morfológicas entre línguas, mas que há, também, o componente subversivo de um povo dominado, em se livrar da língua do dominador. E falando da Península Ibérica, é possível pensar que as novas línguas, que derivaram do latim, deu-se por meio do componente subversivo, que buscava des/configurar a identidade linguistica do Império Romano e assim enfraquecer a língua do dominador, o latim.


Pois, além dos celtas e dos romanos, que dominaram a Península Ibérica, também passaram pela região: os Alanos, os Vândalos, os Suevos, os Visigodos, como também os Árabes; e é inegável, que cada um destes povos deram contribuições na construção de significados e de concepções de mundo na Península Ibérica.


As concepções de mundo


A força de cada língua se encontra no fato de que cada língua busca preservar os significados constituídos historicamente e que desenvolveram o elo do pertencimento cultural, e assim uniformiza um mundo de acordo a apreensão que o povo fez do mundo mediante a leitura dos signos naturais e na criação de signos artificiais. 


É possível pensar que a humanidade fala uma única língua, o difícil é entender as significações que há em cada signo que estrutura o que se chama de cultura e de língua. Podemos ver a Península Ibérica como um delta formado de significações. 


As línguas são rios que misturam seus vestígios aumentando assim o volume e o fluxo das águas num leito e diminuindo em outros. Por isso vejo que não é absurdo pensar que o Império Romano acaba por perder a força de sua língua no processo de transposição linguistica.


A transposição também gera erros, isso quer dizer que pode haver enganos na leitura dos significados na transposição. A fusão das línguas se dar na luta das significações. Às vezes uma língua ganha, outras vez há empate nessa luta pelo domínio. Mas é sempre possível encontrar os vestígios da língua que perdeu a luta na língua vencedora.


Podemos comparar os significados a um delta marinho que se molda a topografia e expressa seus significados por meio dos rios. Um exemplo de palavra, que vejo como um delta marinho, é a palavra mãe. A palavra mãe, em vários idiomas, tem um único sentido. Um sentido padrão: uma mulher que deu à luz e que cria seus filhos. 


Entretanto, a palavra que designa mãe, em basco, é ama. Que em português significa uma mulher que amamenta uma criança alheia: ama de leite. Vejo que a palavra ama, em basco, guarda a essência de uma mãe coletiva, ou de mães coletivas, que, amamentavam e criavam os nascidos da comunidade. Uma mãe delta, que moldava a topografia simbólica e assim ia amamentando e criando significações.


É possível associar a palavra mãe ao movimento e ao tempo, assim como a palavra Hora. Por isso, eu atribuiu a palavra Hora, um sentido de palavra delta. A palavra Hora, com suas significações: tempo/ώρα - Ano/έτος - Agora/Τώρα, e também com o sentido de entidade: Hora/Ωρα/Ωραι/Deusas, ou Chrónos/χρόνος, o deus do tempo, é um delta que molda à topografia da percepção com suas significações. 


Outra palavra, que formata ideias, é a palavra Hórus. Hórus, é uma palavra delta que gera canais com fonéticas e flexões: Ora/Albanés–Hodina/Eslovaco–Ura/Esloveno–Hora/Espanhol–Horo/Esperanto–Heure/Françês–Oere/Frísio–Uair/GaélicoEscocês–Hora/Galego–Awr/Galés–ώρα/Grego–שעה(sha’á)/Hebraico–Uur/Holandês–Óra/Húngaro–Hour/Inglês–Uair/Irlandês–Haora/Maori–Ora/Romeno–Hodyna/Ucraniano–Yure/Xhosa–Ihora/Zulu–Hores/Catalão.


Não podemos negar, que por meio dos Celtas, Bascos, Alanos, Romanos, Suevos, Vândalos, Visigodos e Árabes, as palavras ocuparam os espaços na Península Ibérica como se fossem legiões com suas significações que tanto geravam guerra quanto paz. 


As formas e as ideias


Gosto de pensar que as coisas se formam por meio do susto, ou num assombro perceptivo, ou mesmo, por meio de uma epifania; e pela força do susto, e do assombro perceptivo, e da epifania, as  coisas  ganham formas e ideias. Pois, quero dizer com isso, que o que fundamenta uma palavra é um brusco momento cheio de vigor epifânico. É no momento epifânico que se enraizar sentidos, e consequentemente significações.   


É possível imaginar, que a raiz de uma palavra possa infundir-se por intermédio do que Platão denominou de Khôra (χώρα): o Sensível e o Inteligente. O que molda as formas e as ideias. Contudo, as formas e as ideias podem se encontrar na categoria de não-ser, isso é, sensível a modificações e decomponível pela sua divisibilidade. 


Vamos usar o sentido platônico de Khóra para exemplificar o sentido de não-ser da palavra Hora. Pois, a palavra Khóra (χώρα) e Hora, se encaixam no que eu chamo de raiz diacrítica – sinal gráfico complementar que modifica o valor de algum símbolo. Ou seja, a letra H (agá) não possui som ou ruído, mas é capaz de conferir valores fonéticos e grafémicos: significativos, sensíveis e inteligíveis.


A palavra Hora (ώρα), Agora ( Τώρα), e Horas (Ωραι-Deusas) se sustentam de modo fonético e grafêmico por meio de uma raiz, porém estão condicionadas a modificações diacrítica, que distingui e separa seus significados. Quero dizer que o sensível e o inteligente nem sempre revela a lógica fundadora de uma ideia e o que dar forma a uma coisa. Portado, eu acredito que o que fundamenta a linguagem é o aleatório, é a sua divisibilidade, é a força de uma epifania.   


Não é possível provar o que é sensível e o que é inteligente mediante à ciência, e sim, fazer comparações cientificas que aproximam do que é sensível e do que é inteligente. Não se prova o que é sensível e o que é inteligente e como se dera o sensível e o inteligente. Talvez só a poesia seja capaz de exemplificar o que seja sensível e inteligente, porque a poesia em si mesma é sensível e inteligente em termos epifânico. Entretanto, o epifânico toca e provoca, mas não elucida a sua ação sensível e inteligente.


Quem sabe a poesia esteja mais capacitada para explicar a origem das coisas; isso, porque as coisas surgem por intermedio das lendas e se sustentam no lastro da racionalidade de uma mitopoética. É possível sentir as coisas e tornar as coisas inteligentes mediante à poesia. É possível explicar as coisas que nos toca e explicar o que é inteligente com base na ciência. Pois, explicar é tornar algo inteligível, sentir é apreender algo que nos toca.


Por isso, que demonstrar não significa provar nada, e sim tornar algo inteligível ou sensível. Contudo, a literatura cientifica registra o que está contido num fenômeno e ao registrar o que está contido num fenômeno a ciência cataloga as suas experiências e trabalha diariamente para tornar uma experiência sensível em algo inteligível. 


A ciência está em constate vigilância as possíveis alterações dos fenômenos sensíveis, isso, pela razão que os fenômenos se encontram no estado de não-ser e de vir a ser, e todo fenômeno sofre alterações sensíveis e inteligentes em seu movimento, que ora se intensifica e ora se arrefece; e muitas vezes as alterações sensíveis e inteligíveis não é observáveis pela percepção. 


A fonética enquanto uma entidade física  


No pensamento hegeliano, concreto é aquilo que é efetivamente real em decorrência de sua universalidade, e o que não é universal é parcial, singular ou individual. Então, não tem como negar a universalidade da fonética por haver uma concretude e uma disposição espacial e geométrica da fonética que ganha forma por intermedio de fonemas e grafemas e assim gera um sentido descritivo.


Porém, os sentidos criados pela fonética, por meio da metalinguagem, não têm a mesma universalidade que tem a fonética, isso, porque os sentidos são parciais e singulares; portando, os sentidos carecem de universalidade. Os sentidos estão atrelados a um sistema de linguagem compreendidos por meio da fonologia que estabelece uma funcionalidade interpretativa de sons com sentidos variáveis.  

 

A fonética histórica estuda as mudanças fonéticas ocorridas através do tempo e que determina uma língua ou família de línguas e busca assim encontrar as mudanças e as alterações sistemáticas entre as línguas na composição descritiva dos sentidos. Mas o que impulsiona a dinâmica da fonética são as mudanças voluntárias ou involuntárias? 


Eu não tenho uma resposta para tal pergunta. Pergunta, que até parece fazer alguma sentido, já, que a fonética sofre alterações, mas não deixa as evidências do que levara as tais mudanças, e somente deixa algumas pistas, insuficientes, que servem para investigar os fatores que levaram as tais mudanças. 


Penso que as alteração fonéticas, no sentido de troca de fonema e grafema similares, no decorrer do processo de transposições, ou aglutinação linguísticas, entre povos, deve ter acontecido devido a uma possível causa de “Dislexia Disfonética”. Claro, pensar que a “Dislexia Disfonética” seja a causa das alterações fonéticas é só um pensamento absurdo, mas como não estamos fazendo ciência, então, o absurdo pode ser perdoado. Contudo, eu não posso deixar de lado, que é mais provável, que a troca de fonema e grafema, por similares, se dera mais pela falta de consciência fonética e de fonologia.


Mesmo porque, não havia uma precisão fonética e fonológica do alfabeto e as letras se uniam em seu processo de metalinguagem pelo próprio caráter mágico e aleatórios dos signos. A noção descritiva e de funcionalidade fonética do alfabeto surge depois da fala; portado, a noção descritiva e de funcionalidade fonética do alfabeto é recente no contexto de ter uma noção fonética; assim como a noção do que é dislexia é algo recente. Contudo, as causas da emissão fonética e da dislexia estão associadas a fatores genéticos e ambientais.


Penso, que os mestres pedagogos, da Pérsia, do Egito e da Grécia antiga, percebiam as dificuldades de aprendizagem de seus alunos, mas também não havia uma consciência linguística como se tem hoje. Hoje, a neurologia, a pediatria e a fonoaudiologia, estudam e trabalham para corrigir as dificuldades de aprendizagem dos que sofrem de dislexia e assim capacitar a compreensão, como também estudam para entender as causas e a complexidade neurológica da dislexia assim como dos contextos complexos da linguagem.   


A Dislexia disfonética é a dificuldade de percepção auditiva na análise e síntese de fonemas, dificuldades temporais, e nas percepções da sucessão e da duração, troca de fonemas e grafemas por outros similares, e a dificuldades no reconhecimento e na leitura de palavras e alterações na ordem das letras e sílabas, e omissões e acréscimos.


Pois bem, para justificar o porquê de eu pensar que as alterações fonéticas (fonemas e grafemas, por similares), no decorrer do processo de transposições e aglutinação linguistica, entre os povos, eu suponho que as alterações devem ter ocorrido, talvez, pela aptidão de certos povos na emissão e na vocalização de certos fonemas e outros não, ou também, por questões de lesões do sistema nervoso central, ou mesmo, pela falta de noção ou pela dificuldade no reconhecimento da correspondência entre os símbolos fonéticos.  


A linguagem não nasceu pronta e jamais estará pronta e sempre estará aberta a alterações, mesmo com os hábitos fonéticos da língua materna, que determinam padrões na emissão e na vocalização de fonemas. Sem falar, que por meio das alterações, uma língua também pode desaparecer, a tal língua morta – grego antigo. 


As alterações fonéticas (fonemas e grafemas, por similares), no decorrer do processo de transposições e aglutinação linguistica, entre os povos, não ocorreram do nada: há fatores que sustentam tais alterações. Mas as causas das alterações acaba sendo o que menos importa. Isso, porque as causas das alterações jamais serão identificadas e se reconstruídas de maneira teórica e assim desenvolvendo conceitos sobre o assunto.  


Pois, ao falar que a linguagem não nasceu pronta e jamais estará pronta e sempre estará aberta a alterações, estou a supor, que talvez, os fenícios, os egípicios, os grego, os celtas, os bascos, os romanos, os visigodos e os árabes, não nasceram com a predisposição para a emissão de certos fonemas e a outros não, mas que as alterações fonéticas se deram por intermedio do ambiente, ou talvez, por lesões do sistema nervoso central, e também, pelo intercambio cultural. 


A dislexia enquanto verdade e representação


Pois, como sou acometido pela disfunção da Dislexia Disfónetica, eu estou sempre a lutar com os aspectos constritivos dos fonemas e grafemas. É paradoxal um disléxico falar de dislexia e de fonética se mal consegue entender a si mesmo e aos signos. Mas tendo a ideia da homeopatia, que semelhante cura semelhante, talvez, eu fale da dislexia para falar de mim, e ao falar de mim estou a criar um semelhante e assim eu possa me curar ao falar de mim.


A minha estratégia para não ser traído pela fonética, com seus fonemas e grafemas, sempre foi a de criar uma certa intimidade com cada letra, com cada palavra, com a sonoridade de cada letra e palavra, assim como um filho recém nascido a criar uma intimidade com a mãe em contato com os odores da mãe, e por meio da mãe passa a apreender o mundo para então compreender o real valor descritivo do mundo e qual a funcionalidade do discurso do mundo, e assim possa nascer uma compreensão do mundo.


Como o propósito do texto é fazer poesia, gestar absurdos, e também falar da palavra Hora e seus significados, pois, eu digo que a palavra Hora é uma palavra que sempre embaralhou os meus sentidos por ser uma palavra composta com um sinal gráfico amoldável e por gerar significados distintos mediante a correspondência fonema/grafema. E não obstante, eu cresci confundido, ora, de oração, com hora de unidade e medida de tempo. Encontrar o contexto fonético, grafema, e da significação do sinal gráfico H (agá) sempre foi sofrível para mim. 


A palavra Hora, em termos fonético e gráfico, existe em varias línguas e com descrição e funcionalidade distintas. Em grego, língua da família de línguas indo-europeias, a qual se atribui a origem da palavra Hora (ώρα), a letra Omega tem um som alongado. Já a letra H, em greco, tem uma sonoridade que corresponde a letra (Eta), e o som é longo. A letra H (agá), em português, é uma letra que não tem som algum, mas sempre há os empréstimos sonoros à letra H(agá).


Eu, de maneira fantasiosa, por ter uma mente de HQ - história em quadrinhos – considero a letra H, com suas fusões dígrafos, uma “capa grafema”.Uma capa decorativa com superpoderes que ao vestir uma palavra, representa sons distintos; de sons interjetivos a sons onomatopaicos, da mesma forma que não apresenta sons algum e muitas vezes é fricativa (Nh, Hh, Ch, Ih) e acaba tendo um papel meramente representativo em sua fusão dígrafo.


O mundo e a reverberação dos sentidos 


Eu costumo chamar a letra H de concha marinha, isso, porque a letra H reverbera signos diacríticas (Hors, Hours, Khoraz, Houra, Hór, Whore, Houraï), e não obstante a reverberação dos signos ocupa os espaços da percepção como o ar que ocupa o interior de uma concha. E para entender os signos em sua reverberação é necessário intimidade com a sonoridade de cada signo em sua fusão sonora e ordem sintaxe, e também, saber interpretar a notação de cada signo para então extrair um sentido na reverberação dos signos.

 

Com a letra H, eu formo um universo de significações, assim como formo universos com sentidos díspares e que guardam em si significações que precisam de intimidade com cada universo para então entender a reverberação da significação de cada universo. Pois, me apoio na metáfora do universo para dizer que a palavra Hora, em tcheco, significa montanha, colina, e é possível que a palavra Hora, em tcheco, tenha em sua origem o sentido de elevação.


Mas a palavra Hora também pode ter vindo do eslovaco: Hore/Acima, e Zhora/ De cima. Da mesma forma que a palavra Hora pode ter a sua gênese no croata: Horvat/Hrovati/Hrvati, palavras cognatas e que significa croata – povo –, e faz referência as tribos croatas que habitavam as regiões em que as montanhas transmitiam, por meio da imponência, e da sublimidade, o sentido de elevação espiritual das tribos e eram adoradas pela reverberação mágica de seus signos. 


É possível pensar, que a palavra Hora, em tcheco, tenha a sua base no germânico: Höhe/Höhen/Altura, mas pode ser que a palavra Höhe/Höhen, em germânico, que tenha a sua origem no croata, no tcheco ou no eslavo. Ou quem sabe a gênese da palavra Hora esteja no Tcheco: Úroveñ/Nivel e Nahoru/Acima. Uma coisa interessante e, que não podemos deixar destacar, é, que a palavra Hora, ou Hory, é considerada uma das palavras mais antiga na língua eslava. 


Eu não queria misturar a língua eslava com a língua basca; pois, a língua basca, o basco: euskara, não faz parte do indo-europeu. E por não fazer parte do indo-europeu, o basco é colocado de lado quanto a uma possível influência nas línguas indo-europeias. Porém, vamos sustentar a tese de que houve influência do basco no eslavo por meio das palavras Gora e Gori, mas nesse caso, é uma tese desvairada, isso, por não ter como provar que as palavras Gora e Gori sejam as gestoras da palavra Hora, no contexto de elevação e sublimidade. 


Mas por que haveria de ter uma relação da palavra Hora com o basco? Ora, por supor que o basco/euskara tenha contribuído na formação de palavras no indo-europeu. Não podemos deixar de lado, e nem mesmo negar, que o basco é uma língua sobrevivente do pre-indo-europeu. Mesmo o basco não sendo uma língua que faça parte do indo-europeu, mas vamos sustentar, de maneira hipotética, que há uma possível influência da língua basca no eslavo. 


Portanto, essa influência possa ser que se tenha se dando por meio de uma raiz fonética com significado distinto ou mesmo aproximativo. É o caso das palavras Gora e Gori, palavra de origem euskara/basco, e que possam ter uma relação formadora com a origem da palavra Hora, em tcheco; ou mesmo, tenha uma relação por meio de empréstimo, isso é, no contado entre basco e eslavo; ou mesmo, as palavras Gora e Gori, em basco, sejam a base da palavra Hora, ou a palavra Hora, que seja a base das palavras Gora e Gori. 


A palavra Gora e Gori, e a palavra Hora, guardam em si, o sentido de montanha, queimar e elevação. A palavra Gora, em basco, denomina para cima, e a palavra Gori, tem uma relação direta com a palavra Hori, em Tcheco, e Gori, em esloveno. As três palavras significam a mesma coisa: queimar e elevação. 


Vamos recorrer a uma metáfora para construir uma imagem que possa sintetizar a nossa tese de que o basco tem uma intersecção com  o povo indo-europeu, em especial com os eslavos. Podemos imaginar três etnias diante de um mesmo fenômeno: uma montanha expelido chamas vulcânicas, despertando assim o sentimento de sublimidade nessas etnias mediante à simbologia da elevação das chamas vulcânicas. E mediante esta imagem podemos fazer uma associação poética com as palavras Gori, Hori e Hora, e poeticamente traçando uma origem. 


Como o propósito do texto é fazer poesia e referenciar, de forma não conclusiva, de que modo a palavra Hora surgiu, com seus mil e um significados, e como a palavra Hora chegou em Portugal, então, podemos especular que a palavra Hora chegara em Portugal prenha de sentidos, e destes sentidos, gestados em Portugal, sobreviveu os sentidos que mais se adequavam a concepção dos portugueses, ou seja, os sentidos foram moldados pela concepção católico no processo da Inquisição Católica, onde era queimado qualquer sentido que gerasse adversidade e que não estivesse aliado com a fé cristã. 


A Semente sofre alterações mas não perde a sua essência.   


Apesar de preferimos o tempo enquanto uma representação orgânica, onde a mente e o corpo é uma unidade e não uma representação cartesiana, em que a mente e o corpo são unidades distintas, entretanto, a sensação que fica é que o tempo obedece ao movimento de uma razão cartesiana, que o tempo existe mediante a eixos sistemáticos e distintos. 


Quando se fala em representação orgânica, a ocupação árabe da Península Ibérica pelo Califado Omiada, em 711, a comando de um general berbere, é um exemplo de representação orgânica. Nesse movimento de ocupação se instaura o processo de lógica e razão por meio da arabização da região ibérica. Da interação entre os árabes e os povos na região ibérica, por meio da ação corpo/mente, é constituído uma linguagem com um tempo paradigmal. E desse tempo paradigmal, governado por um eixo simbólico, se move significações,

Quando eu penso em razão e lógico, eu sempre penso: como é que sabemos que uma coisa tem razão e lógico? Isso, porque nunca fica claro como se chega à uma indução e à uma dedução. Mas é indiscutível que a razão e a lógica se sustentam por meio de uma metalinguagem. Pois, os árabes, ao planificar um tempo paradigmal, na Península Ibérica, estão a retratar a si mesmos mediante à metalinguagem.

Nesse processo de metalinguagem, no século XI, a confederação de tribos beduínas Banu Hilal, que sai da Arábia, da cidade de Hejaz, e se aventura pelo do Egito e se espalha pelo Norte da África, passa a ocupar espaços e a combater os berberes, e em especial, os Ziridas, berberes da Argélia, sob o comando do Califado Fatímida. Os beduínos Banu Hilal, imbuídos de uma lógica e de uma razão prenha de significações, instauram o terror e enfraquece os hábitos e as crenças dos povos nativos com a força da metalinguagem.

Apesar dos conflitos entre os beduínos e os berberes, entre ibéricos e árabes, há uma interação metalinguística entre estes povos e desta interação funda-se uma complexa lógica e razão, o que torna a interação irreversível. Da complexa interação entres estes povos, a fonética árabe, com suas raízes, fundem-se com outras línguas. O árabe funde-se com outras línguas mas preserva a essência de suas raízes, e assim, o árabe sobrevive e exerce influência. 


A força do árabe está na preservação dos seus aspectos simbólicos. Um exemplo simbólico, é o caso da cidade árabe, Hejaz, de onde saíra os beduínos Banu Hilal, cujo contexto simbólico se preserva nas palavras: Hujr/حجر - pedra, barreira, retenção; Jar/جر - arrastar, puxar; Hajar/هجر - sair, separação, expulsão, emigração.


As palavras Hujrã, e Hourã, também preservam a força simbólica, e são palavras que têm uma relação com o deus Hórus/Hor, e talvez, a raiz das palavras Hujrã e Hourã, se encontre no verbo Mahawir: fazer girar, e no substantivo Mihwar: eixo, ligação, e também tenham uma relação com os beduínos no contexto simbólico de move-se e fazer aliança - Hulfan /حلفان. 


O propósito do que foi dito até aqui é o de reunir elementos simbólicos e assim possam compor por meio da imaginação, sentidos simbólicos que se correlacionem com Hórus/Hor, com ovo-اون/awn-, e com eixo, e assim, hipoteticamente, podemos supor, que o princípio etimológico da palavra Hora, esteja mais próximo do mundo dos egípicios – Hórus/Hor – e não propriamente do mundo basco, grego ou romano.


Em árabe, o que chamamos de unidade de medida de tempo, ou seja, Hora - Saea -Saat/ساعَة , tem a sua raiz em Sue/ سوع, que significa iluminado. O que possa dar a entender que unidade de medida de tempo, Hora, tenha uma correlação com Hórus/Hor - حور


Da mesma forma, que Horus/Hor, pode ter uma correlação com um álamo - Hur/ حور- de folhas brancas ou folhas negras, ou mesmo, com as ninfas Houris /حور, cujos os olhos brancos/lua brilham na escuridão; e que as doze ninfas – Houris – da noite tenham correlação com o transformar - altahwir - hawar/حور. As ninfas árabes, Houris, se diferenciam das deusas gregas das estações, as Horas, mas a semente mitopoética, que gestou as deusas gregas, é a mesma que gestor as ninfas árabes. 

Ao se referir a transformação e a movimentação, também cabe a interpretação de que transformação e movimento tenha um significado de dissimulação; isso é, no sentido, que ao se mover se estar a oculta-se e a tirar a atenção de si e assim a preservar uma forma essencial por meio do movimento que dissimula uma transformação. O que parece se transformar, mediante ao movimento, nada mais é do que um processo de adaptação a um meio, e concomitante a preservação de um núcleo essencial.


A lenda e suas raizes.


Lenda é uma narrativa de caráter maravilhoso, e muitas vezes, a lenda é a base na construção e na sustentação de fatos históricos. E desta forma, os fatos histórico preservam uma verdade por meio da evocação poética de uma lenda. A poesia amplifica os fatos e na amplificação do fatos, mediante a poesia, só é possível acessar a verdade dos fatos mediante à poesia, por meio de uma poética sintética e analítica, com seus signos arbitrário e optativo.


Podemos entender, que o mundo seja a síntese de uma lenda, isso, porque a poética sintética e a analítica das lendas, em sua dinâmica mitopoética, cria valores e não verdades. Sendo assim, os valores de uma lenda é a força motriz na construção e transformação do mundo, enquanto que a verdade estar sempre num processo de construção. A lenda é um signo arbitrário, e a verdade um signo optativo.


Pois, quando os árabes chegaram na Península Ibérica, com as raizes de suas significações, os frutos das significações árabes ora tinham o sabor dos frutos persas, ora o sabor dos frutos egípcios, como também, tinham o sabor dos frutos gregos; da mesma forma, que as significações árabes adquiriram as nuances do sabor das significações dos povos que já habitavam a região ibérica na depuração dos signos.


Bem, fiz toda essa lenga-lenga sobre lenda e verdade, para dizer, que inicialmente, na Península Ibérica, a palavra Hora (Ora) era grafada sem a letra H, mas a partir do século dezessete (XVII), a palavra Ora passa a ser grafada com a letra H. A palavra Ora passa a ser grafada com a letra H, talvez, porque os signos estão subalternos a um processo de depuração para assim se eliminar as ambiguidades das significações e assim se chegar a uma síntese conceitual por meio de um sentido figurado.  


Antes da palavra Ora ser grafada com a letra H, na Península Ibérica, a palavra Ora significava costa, boca, agora, assim como outras tantas significações. Muitas das significações da palavra Ora se perderam no tempo, digo se perderam, porque as significações não morrem, se perdem, se ocultam, ou são transformadas de acordo a finalidade da ordem do dia, ou seja, da ordem do dia do espaço-tempo na produções dos fatos.  


A romanização da Península Ibérica começa na Costa Cantábrica. A Península Ibérica teve influência de povos bárbaros, e a fonética das palavras Hora, Höhe, Hori, Gori, Gora, com suas significações de altura, de sublimidade e montanha, ecoava na região ibérica, assim como o vento. Quando falo de Península Ibérica, falo também de Portugal, que fora habitado por bárbaros e visigodos, e as palavras Höhe, Gora, Gori, Hori e Hora, enquanto sementes significantes, fecundaram sentidos que se perderam, ou sofreram transformações. 


Portanto, é possível conjecturar, que os significados das palavras Höhe, Gora, Gori, Hori e Hora, tenham sido silenciados pela espada do latim, mas os significados das palavras Höhe, Gora, Gori, Hori, e Hora, habitaram a região ibérica com suas imagens acústicas antes de serem silenciados. E por mais que possa parecer estranho, associar as palavras Gori, Gora, Höhe, Hori, e Hora, com a palavra Ora, mas há uma certa correspondência fonética entre elas.


Com a força do latim, na região ibérica, os significados das palavras Gori, Gora, Höhe, Hori, e Hora, talvez tenham sido ressignificados, ou mesmo perdidos. O latim infestou as terras ibéricas como se fosse um dente-de-leão, nome vulgar de várias espécies pertencentes ao género botânico Taraxacum officinale, mudado assim a paisagem linguistica. 


A metáfora do dente-de-leão sintetiza o que fora denominado de latim vulgar – o latim popular, “inculto e belo”. Talvez inculto, seja um modo de se ocultar o culto. A força motriz de uma lenda estar no seu lado oculto e inculto. Pois, a lenda pode ser uma coisa inculta, mas há beleza e poesia numa lenda. Culto tem duplo sentido. Pode ser uma paixão extremada que conduz à escuridade, como também, um extremado conhecimento que leva luz a escuridão e clareia um fato que se encontrava oculto. 


A helenização e a latinização do tempo


Antes do mundo ser uma representação grego-latino, o mundo já era sínteses de mundos. Por isso, alguns filólogos teorizam e sustenta a tese de que a raiz da palavra grega, Hora-Hôrai, tenha a sua gênese no antigo Egito, que tenha a sua raiz em Hórus/Hor. Podemos supor, mesmo a contra gosto da etimologia culta e oficial, que o elo perdido da raiz da palavra Hora se encontra em Hórus/Hor. 


É possível pensar, que os filólogos preferiram euro centralizar a raiz da palavra Hora. E por uma questão de eurocentrismo, os filólogos preferiram que a raiz da palavra Hora-Hôrai fosse atribuída ao grego, ao indo-europeu; porém, o sentido de divisão de tempo, atribuído a Hórus-Hor, é preservado na palavra Hora. Portando, isso mostra que o sentido é uma semente que é modificada para se adaptar a finalidade de um solo, de uma cultura. 


Outra possibilidade especulativa e fantasiosa, é pensar que a palavra Ora/Hora não chegou na região ibérica com os gregos ou com os romanos, mas que a palavra Hora já estava presente nas línguas dos grupos étnicos que viviam na região ibérica. Podemos pensar, que a palavra Hora vem da palavra Orain - agora, e da palavra Ordua - Hora. Mas nesse caso entra uma dúvida, será que Orain e Ordua não sejam um empréstimo linguistico do latim ao basco?


Pois, a palavra galês, Awr/Hours/Heure, tem correspondência com a palavra Hora, e podemos pensar que a palavra Awr tenha uma relação morfológica entre o céltico e o basco, e pensar isso não é proibido; e talvez, metaforicamente falado, a palavra Ordua/Hora, em Basco, seja a ama que alimentou a palavra galês Awr. Não esqueça que estamos aqui para fantasiar e não para estabelecer verdades.


Eu, com a minha cara de pau, vejo, que estamos mais aptos a aliterar e anagramatizar os signos do que propriamente aptos a saber qual o real valor de um signo, mesmo porque, um signo não nasce pronto. No portfólio da linguagem há uma gama de signos, que vão dos signos naturais aos signos artificias, e também, os signos mitopoéticos, com seus lastros primitivos que fundamentam significados que nem sempre obedecem uma ordem lógica e racional.


Sei que estou sendo repetitivos, mas a repetição é uma maneira de reiterar a correspondência das coisas e mostrar que as coisas sempre têm uma base e não são casuais. A palavra Hora, ou Hôrai, em grego, se referia as deusas das estações. Ou seja, cada Hora tinha a sua estação. Inicialmente era três deusas, que personificava o movimento; portando, a resposta mais próxima da gênese da palavra Hôrai é movimento e transformação, o que não deixa de ter uma relação etimologia com o deus Hórus-Hor.


O sentido de tempo, na período romano, está atrelado a uma entidade estática, que podemos chamar de poder, no sentido de deter e reter o movimento. O tempo dos romanos carece de movimento extático, pois, o tempo no mundo romano é a força do poder. O tempo dos antigos egípcios e dos gregos antigos se movia mediante a um êxtase; tudo se movia pela força do êxtase e da criação mitopoética das lendas com suas lógicas e razões de ser. 


Depois dos egípcios e dos gregos antigos, houve uma simplificação da gênese do movimento, já que a causa do tempo para os egípcios e para os gregos era a suma do movimento dos deuses. Para o romanos, o tempo era uma unidade de medida que representava o controle e a manutenção de um poder geopolítico. O movimento, ou o tempo, é a divisão de um todo: comover, promover e remover. 


Como o apelido Ora ou Hora se deu em Portugal


Penso que a fruição de um texto acaba sendo mais importante do que a sistematização de um significado que reduza o texto a uma axioma, já que a fruição do texto gera premissas que vão além das contradições da premissa dissertada. Quero dizer, que não existe uma única raiz para uma palavra, ou seja, é possível pensar que exista varias raízes que constituam uma palavra, da mesma maneira que uma palavra pode significar infinitas coisas pela sua força mitopoética. 


O fato de se ater a um único elemento constitutivo e formador de uma palavra, talvez seja pela complexidade morfológica das palavras, e o método escolhido no jogo das significações acaba sendo o método da redução da complexidade para se chegar a denominador comum. Encontrar a origem de uma palavra ou de um apelido, ou sobrenome, é uma tarefa árdua. Pois, é na busca por encontrar a origem de um signo que se constrói um labirinto. E ao se construir um labirinto pode se esquecer de se construir a saída do labirinto, ou seja, também podemos nos perder ao buscar a origem de um signo.


Na idade-média, e os séculos que seguiram, os apelidos, ou os sobrenomes, se davam de muitas maneiras. Uns eram denominados pelo que se possuíam, outros de acordo à região que habitavam, ou cada um se nomeava como achava melhor ou era nomeado pela maneira de ser, de viver, ou pelo que fazia ou pelo o que não fazia. 


Isso sem falar da inquisição, na Espalha e em Portugal, que forçara muitos a abandonar seus apelidos e adotarem nomes e apelidos de acordo a visão de mundo cristão. É no século dezenove que se começa todo um movimento social e jurídico para assim organizar o caos dos apelidos que denominavam as pessoas em seu meio sociocultural.


As referências de como o apelido e o alcunha Hora chegou e se deu em Portugal é esgarça. Pois, o apelido Hora é encontrado em outras partes do mundo, e assim como em Portugal, o apelido Ora, Hora, ou da Hora, tem uma certa obscuridade no sentido de como se deu e qual é a sua origem em termo onomástico e significações.


As únicas referências que possam atestar o apelido Hora, em Portugal, se dá por meio de algumas regiões, é o caso da região de Senhora da Ora - Hora, no concelho de Matosinhos, ou Gafanha da Boa Hora, no concelho de Vagos, e Orada, concelho de Borba, ou mesmo, a ermida Senhora da Orada, no concelho de Albufeira. 


A Senhora da Ora, inicialmente era grafado com a letra O, e com o passar do tempo passou a ser grafado como Senhora da Hora. Mas isso não que dizer que as pessoas que tinham o apelido Ora, Hora, ou da Hora, tinham antepassados nas regiões citadas acima ou nasceram nestas regiões. Em outras partes de Portugal, há pessoas com o apelido Hora, e da Hora, e seus antepassados não têm nenhuma relação com as regiões acima citadas. 


Todavia, com a força da religião Católica, na região Ibérica, o apelido Ora, Hora e da Hora, assim como o apelido Boa Hora, e da Boa Hora, ganharam um sentido “Mariano”, que faz referência as Santas Marianas e a Virgem Imaculada mãe de Deus, da Bem-aventurada hora do nascimento e da morte, e das preces alcançadas. Contudo, a palavra Orada: local onde se reza (Orare - Orar – Oris: boca.-), lugar ermo, fora de uma povoação, é sustentada pelo sufixo ada, que designa dríada/dríade, divindade, assim como adorar ou consultar um oráculo, o orago: o santo de um templo.


Não podemos deixar de lado a possibilidade de que o apelido Hora, também, pode ter sido uma invenção dos marranos (judeus convertidos ao catolicismo); já que a palavra Hora, também, tem correspondência  com uma dança no Bálcãs, assim como é uma dança judaico. E por isso, podemos especular que o apelido Hora tenha uma relação com os judeus. Da mesma forma, que o sobrenome Hora, possa ser um anagrama do sobrenome Orah, que pode siginificar luz ou fogo. Orah era um apelido comum, e é, um apelido comum entre judeus. 


Caso o apelido Hora, seja um anagrama de Orah, o apelido não fora construído sem fundamento. Havia um sentido na sua construção, e esse sentido buscava se aliar as ideias impostas pela inquisição, e desta forma se livrar da perseguição inquirição. Portando, o apelido Hora, como um anagrama do sobrenome Orah, ganhou o sentido católico de Bem-aventurada hora do nascimento e da morte, e das preces alcançadas. Eu posso está a falar besteiras, mas são besteiras que até que faz algum sentido.


O apelido Orabuena, de família judaica espanhola, também é encontrado em Portugal como Boa Hora. Com a pressão da inquisição, os judeus usaram de seu talento com as palavras para compor apelidos e assim se livrarem da estupidez da inquisição; e se existia Orabuena, com conotações judaicas, porque não poderia existir Boa Hora, e também Hora, com conotações católicas, sobrenomes que a Inquisição via com bons olhos por haver características cristã. 


A Vila de Horas: a lenda


Os apelidos e os sobrenomes geralmente têm uma origem obscura. Mas a obscuridade de muitos sobrenomes, no que se refere, como estes sobrenomes se deram e de onde vieram, se torna mais evidente quando um sobrenome não tem um peso histórico. Quando se pensa em sobrenomes, os sobrenomes que vêm à cabeça são os sobrenomes que têm uma narrativa histórica e com um peso politico e econômico que-os sustentem; e são sobrenomes ornados com os enigmáticos brasões que denotam o poder de uma família, de um soberano, ou de corporações. 


Pois bem, nas construções narrativas dos sobrenomes, o sobrenome Hora ter um certo peso histórico no Países Baixos (Holanda) e na região dos Bálcãs, como também na Irlanda, porém, ao se aprofundar na pesquisa do sobrenome Hora, nestes pais, em especial no Países Baixos, que há informações do sobrenome Hora, mas as informações não são conclusivas e deixam dúvidas quanto a origem do sobrenome Hora. Já em Portugal, o sobrenome Hora é de fato um sobrenome obscuro, isso, porque as narrativas e as informações divergem.  


Nas minhas pesquisas, sobre a origem do sobrenome Hora, eu me deparei com muitas vertentes do sobrenome Hora. E entre as pesquisas, eu encontrei uma lenda que fala de um povoado de nome Horas, no distrito de Fulda - Hessen, capital Kassel, na Alemanha. Inicialmente, Horas, se forma como uma vila, em Fulda. A Vila de Horas surgiu no século XI. O texto que segue, abaixo, é uma crônica sobre a Vila de Horas. O texto foi colhido do site St. Bonifatius Fulda-Kirchstr -Igreja São Bonifácio. 


Crônicas de Horas – início do povoado de Horas


“Quanto tempo depois do início de Fulda em frente aos portões do mosteiro e da cidade, o povoado de Horas não pôde ser determinado com precisão sobre a origem do nome do povoado. Pra começar, o nome do local também não fornecia nenhuma informação precisa, e o nome mais velho do povoado é ‘Horaha’ . 


O nome Horaha significa ‘riacho pantanoso’, indicando assim o primeiro assentamento no riacho de nome de Horas, no qual um vale fluía e esse vale era conhecido como Horaha, Horaw e Horau. Mas popularmente era conhecido como Huere. Porém, as coisas não ficam claras no que se refere ao nome do povoado e do porquê do nome Houre, mas finalmente o povoado fora denominado de Horas.


O pesquisador local, Dr. Haas, diz, que um clérigo, do século XVIII, estava a procura de uma explicação para entender o porquê do nome do povoado. Esse clérigo encontrou uma lenda sobre o local. De acordo a lenda, São Bonifácio – 672/754 – apostolo dos Germanos, e missionário em Frisia (Países Baixos), descia à nascente do riacho para ali se refrescar nas ‘horas canônicas – horas regulares em que diariamente os padres rezam o Ofício divino’ ” .


Como podemos notar, a lenda do nome do povoado de Horas se sustenta em São Bonifácio. Além de São Bonifácio, há documento de 1330, que comprova, que em Fulda, haviam famílias com sobrenomes Horas, e consta o nome de um tal Konrad von Hora. Assim como há um documento, de transferencia de terras, em Fulda (1356), grafado com o nome de Corando de Hora. Pois, tanto a lenda quando os documentos, não são conclusivos quanto à origem do sobrenome Hora e quanto a origem da Vila de Horas.


Mas uma coisas é clara, não podemos negar que o maior legado da linguagem é a sua criatividade e a sua liberdade na aquisição de significados. Entretanto, mesmo a palavra Hora, com a sua multiplicação de significados flexionados, mas a palavra Hora não nega que a sua gênese está no deus Horus-Hor. A homonímia da palavra Ora, em latim, com a palavra Hora, em grego, tem uma convergência fonética, e Hora, e Ora, tecem significados morfológicos. Pois bem, agora vou orar. É a hora da minha oração. Mas tem ora que eu oro e tem ora que eu oraculizo. Agora a história acabou, e quem quiser que conte outra.




Referencias:


Américo Costa, “Diccionario Chorographico de Portugal Continental e Insular”, 1930.

José Augusto de Sotto Mayor Pizarro,“Linhagens Medievais Portuguesas, Genealogias e Estrategias (1279-13250

Iria Gonçalves, “Amostras de Antroponímia Alentejana do século XV”,1955.

J. Ferraro Vaz, “Numária Medieval Portuguesa”, 1960

José Orlandis, “Estudios Sobre Instituciones Monásticas Medievales”. Universidad de Navarra, S.A., Pamplona, 1971.

Salustiano Moreta Velayos, “El Monasterio de San Pedro de Cordenã. Historia de un dominio monástico castellano” (902-1338). (Acta Salmanticensia. Filosofía y Letras), Universidad de Salamanca ,1971. 

Pedro Manuel G.P.Canavarro, “Portugal e a Dinamarca durante a Restauração. Relações diplomáticas” (1640-1668) - Lisboa, 1971 

João Manuel Cordeiro Pereira, “A alfândega de Vila Conde nos princípios do século XVI”.

Manuel Severim de Faria, “História Portuguesa e de outras Províncias do Ocidente desde o anno de 1610 até o de 1640”.

Tavares Ferro, “Os Judeus em Portugal no século XIV”.

Maurice Chaume, “Pour les recherches d’Histoire Chrétienne et Médiévale”.

Leite de Vasconcelos, “Antroponímia Portuguesa”.

Enrique de Gandia, “Del origen de los nombres y apellidos”.

J. J. Nunes, “O elemento germânico no onomástico Português”. 

Anita Novinsky. “The Myth of the Marranos names” ,2006

Archief der Maatschappij tot Exploitatie van het onverdeelde Munnikeveen, Mr. Dr. C. C. Geertsema– Bibliotheek Ru Grunigen.

APEB- Arquivo Público do Estado da Bahia

A.I.N.S.R. Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário  

Arquivo Nacional da Torre do Tombo – Lisboa Portugal

Academia Real da História Portuguesa Lisboa Ocidental 

Arquivo Histórico Português

A.N. Arquivo Nacional

B.N. Biblioteca Nacional 

Deutsche Digitale Bibliothek 

BNDigital.gov

Bonifatius-horas.de